Lady GaGa é um ícone, você goste ou não. Perucas, maquiagens, músicas, vídeos e performances inspiradas em artistas das últimas décadas fizeram com que as gerações mais jovens vissem a nova-iorquina como o mais novo ídolo da música pop. Mas como Stefani, nome de nascença da cantora, conseguiu isso?
Artistas do cenário Pop e alternativo declararam que a carreira de GaGa era uma piada, visto que não apresentava nada de inovador na indústria. Betty De Vitto, vocalista da banda The Gossip, chegou a declarar que Stefani fazia 'música para crianças, que nunca ouviram estrelas como Michael Jackson e David Bowie'. A verdade é que GaGa se inspira, sim, em produtos já lançados por esses nomes. Enquanto Madonna, a rainha do Pop, avaliou o comportamento de GaGa como “redutivo”, a verdade é que a jovem cantora sofre com os rótulos de copiadora por se inspirar em estrelas que mantém a carreira até hoje, ou que encerraram-na nos últimos anos.
Michael Jackson dizia abertamente que se inspirava em Frank Sinatra em suas produções; Madonna é uma fã declarada de Edith Piaff e a utilizou/utiliza como referência artística até os dias atuais. A diferença? Os musas inspiradores dos reis do pop estão mortos há décadas, o que dificulta (calma, eu disse ‘dificulta’, não ‘impossibilita’) que a atual geração perceba os indícios de “cópia”. Enquanto isso, a semelhança entre ‘Born This Way’ e ‘Express Yourself’ está fresca na memória de todos, assim como a fotografia similar entre os clipes de ‘Vogue' e ‘Alejandro’.
Porém, tudo começou de uma forma mais sutil. Em 2009, lembro de abrir o YouTube e procurar o clipe ‘Buttons’, das Pussycat Dolls (elas eram ótimas, judge me), e o site acabara de criar a política de ‘ads’. O comercial da vez foi o trecho do clipe de uma tal de Lady GaGa, ‘Just Dance’. Lembro de ter visto o globo disco, o cabelo platinado, o raio de Bowie no rosto e o som nada típico do que aquela época estava produzindo e ter pensado “preciso saber mais”.
Na mesma hora, achei vídeos da cantora em uma websérie chamada ‘GaGa Vision’, com o backstage do que GaGa estava produzindo. Ela era a cabeça de tudo: desde a introdução, que declarava que Lady GaGa era um ser extraterrestre que veio revolucionar a cultura Pop no planeta Terra - bem similar à ideia central da Born This Way Ball -, até a produção das faixas no estúdio. Saí da escola no dia seguinte direto pra Bemol (bons tempos em que a loja era o nosso ponto de compra de discos) e encontrei o The Fame em uma prateleira lá no canto.
Quando abri o disco, confirmei que a moça era diferente das loiras do mundo pop. Em meio a encartes como o de Blackout, que não traziam as letras ou qualquer informação adicional sobre a artista, o de ‘The Fame’ trazia uma mulher que não tinha medo de mostrar que tinha bunda grande, que gostava de mostrar que escreveu todas as músicas e de se deixar vulnerável ao colocar um poema escrito pela tia, Joanne, que é até hoje o grito de guerra de todas as turnês da moça.
‘The Fame’ é um álbum açucarado. Não digo doce porque isso pode levar a interpretações de que os sons e as composições são inocentes; não são. É um álbum dedicado à decadente (?) geração que tem hoje 20 e poucos anos, com faixas como ‘Beautiful, Dirty, Rich’, ‘Money Honey’ e, é claro, ‘The Fame’ que falam sobre o insaciável desejo da juventude de obter sucesso sem abrir mão da vida noturna e vícios.
E então GaGa conseguiu dinheiro para comprar outras perucas - ela tinha apenas uma durante os primeiros seis meses de carreira - e investir em clipes. E que clipes essa moça fez. Depois de lançar os vídeos bem populares de ‘Just Dance’, ‘Poker Face’, ‘LoveGame’ - além dos pouco conhecidos ‘Eh É, Nothing Else I Can Say’ e 'Beautiful, Dirty, Rich’, GaGa ressuscitou a arte de transformar músicas pop em verdadeiros curtas com o clipe de ‘Paparazi’.
Lembro que, assim que o vídeo foi lançado, canais como MultiShow e MTV cortavam o vídeo para exibir apenas os três minutos e pouco do clipe. Porém, a popularidade foi tanta, que as redes de TV foram obrigadas a abrir mão de mais um clipe para que ‘Paparazzi’ fosse exibido integralmente.
Já nessa época, GaGa trabalhava no segundo álbum da carreira, 'The Fame Monster’, enquanto fazia turnê pela Europa com o show ‘The Fame Ball’. Daí que ela lança ‘Bad Romance’ e os “rah, rah, roma-ma-ma” entram na cabeça de milhões de pessoas e a faixa anunciava a fixação de GaGa na indústria.
Foi nessa mesma época que os fãs da cantora começaram a se denominar de ‘little monsters’, por conta de um verso na música ‘Monster’ (uma das minhas favoritas de toda a carreira da cantora). Podem dizer que é cansativo, que é chato ou qualquer coisa, mas amo quando GaGa faz um curta-metragem como clipe de singles. ‘Telephone’, com a participação de Beyoncé traz referências lindas e bem aplicadas de Tarantino, além de sinais de admiração por Michal Jackson.
E então ela lança ‘Alejandro’, o polêmico vídeo dedicado aos fãs gays de GaGa. Se ela não era um ícone para a classe antes, essa foi a coroação dela. Relembre o clipe abaixo:
Ah, e não dá pra não falar do ótimo ‘The Monster Ball’, né? O show mostra o potencial vocal de GaGa, pouco explorado até ‘ARTPOP’, lançado nessa semana. Além da voz, vemos uma artista completamente entregue à sua produção audiovisual. GaGa não é a melhor dançarina, mas sabe o que funciona pra ela; GaGa não é a mulher mais bem vestida (óbvio), mas sabe o que funciona no palco - comprado com todos os lucros da nova-iorquina até aquele ponto da carreira.
The Born This Way Era
‘Ela não é mais divertida’, ‘ela tá se contradizendo’, ‘ela é muito prepotente’, ‘é uma cópia de Express Yourself’, ‘ela chama isso de álbum da década?’, ‘que capa é essa?’ e muitas outras análises como essa foram lidas e ouvidas por mim - e devo confessar que concordo com uma ou duas. A verdade é que ‘Born This Way’ é um álbum de libertação de GaGa. É a história dela, e a de muitas pessoas que se sentiram deslocadas durante toda a vida.
Eu sei que muito do que GaGa fala soa muitas vezes clichê e apelativo. Pessoalmente, porém, eu entendo o que ela quer dizer. É difícil viver tentando se encaixar em formas estúpidas e incoerentes. Vamos ver ‘Marry The Night’ e entender o que a ‘Mother Monster’ queria nos dizer quando escreveu esse hino (a bridge da música é de arrepiar):
O lado dark e muitas vezes pesado dessa era da cantora fez com que muitos abandonassem o barco multifacetado de BTW. Alguns disseram que ficaram confusos com o que ela tinha produzido. O disco foi escrito, gravado e produzido, enquanto GaGa finalizava a maior turnê da carreira dela; foi tudo muito corrido. A pressa da Interscope de lançar material novo da nova galinha de ovos dourados da indústria influenciou, de uma forma ou de outra (não tem como negar), o que GaGa produziu. Alguns artistas, como Christina Aguilera, dizem que gostam de demorar para lançar um disco novo para que possam aprender mais sobre a vida e sobre si mesmos. E foi exatamente isso que GaGa fez.
Ok, foi de uma forma forçada, mas GaGa pôde se dedicar à gestação do disco ‘ARTPOP’. Não falarei muito sobre o álbum, já que teremos uma resenha ainda nessa semana no PELAMORDI, mas preciso dizer que vejo uma GaGa completamente satisfeita com o trabalho lançado, com a mensagem que quer passar e com a produção do disco.
A era ARTPOP, que difere da anterior desde as cores até a qualidade de produção instrumental, traz uma mistura de Stefani e GaGa que não pode ser desperdiçada pelos admiradores de música. não apenas a música pop, mas a música em geral, porque ARTPOP influenciará artistas a partir de agora. Quem sabe não vemos uns e outros sendo chamados de ‘copycats' de GaGa em breve?
por Diego Toledano
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